Certas coisas me deprimem. Uma delas é observar como, em determinados ambientes, os indivíduos encontram-se aprisionados a questões repetitivas e aparentemente insolúveis. São rixas, discussões e dificuldades que voltam à baila de tempos em tempos sem jamais admitir solução. Parte-se de um princípio (sempre o mesmo) e rodopiando em torno deste centro, retorna-se ao ponto de partida, fechando o círculo.
As pessoas que se acham
nessa circunstância têm a impressão de não encontrar saída.
Na Grécia Antiga e em
boa parte das culturas tradicionais existiu o conceito de eterno
retorno. Dentro desse conceito, o ser humano estava
destinado a regressar sempre ao ponto de partida, revivendo as situações conflitantes
de sua existência. A figura da serpente engolindo a própria cauda simboliza
perfeitamente essa dinâmica. Tudo está limitado pelo movimento restritivo da
serpente ancestral.
Sabemos que a serpente
representa a maldade e sabemos também o altíssimo nível de maldade que existe nesses
ambientes acima mencionados.
O autor Valentim
Tomberg, em seu estudo Meditações Sobre
os 22 Arcanos Maiores do Tarô (editora Paulus), oferece-nos uma interessante análise do
arcano A Roda da Fortuna. Nesta carta,
observamos três figuras características protagonizando esse movimento circular
da roda: o macaco de feições humanas na descendente, o cachorro de feições
humanas na ascendente e no topo da roda uma esfinge. Tomberg decompõe a simbologia
utilizando-se inclusive de conhecimentos científicos, no entanto, basta-nos
aqui sua análise acerca do eterno retorno e da transcendência.
O movimento descendente
é um círculo fechado do qual ninguém se evade a menos que entre no processo
ascendente que conduz à transcendência, neste arcano representado pela figura
da esfinge. Portanto, tão-somente o contato com Deus conduz à saída desse
aprisionamento. Sem dúvida, tendo surgido no enredo da tradição
judaico-cristã, o conceito de escatologia – o término
da história e a entrada do ser humano na felicidade da vida eterna – representa
a condenação do eterno retorno.
Distanciar-se fisicamente
desses ambientes viciados pela dinâmica do círculo obsessivo consiste no ato básico
da libertação. Porém, como existem ainda consequências psicológicas e espirituais, apenas a força divina conseguirá realizar, de fato, o
rompimento definitivo dos grilhões.
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