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quinta-feira, 4 de junho de 2015

O ETERNO RETORNO E A TRANSCENDÊNCIA


Certas coisas me deprimem. Uma delas é observar como, em determinados ambientes, os indivíduos encontram-se aprisionados a questões repetitivas e aparentemente insolúveis. São rixas, discussões e dificuldades que voltam à baila de tempos em tempos sem jamais admitir solução. Parte-se de um princípio (sempre o mesmo) e rodopiando em torno deste centro, retorna-se ao ponto de partida, fechando o círculo.

As pessoas que se acham nessa circunstância têm a impressão de não encontrar saída.

Na Grécia Antiga e em boa parte das culturas tradicionais existiu o conceito de eterno

retorno. Dentro desse conceito, o ser humano estava destinado a regressar sempre ao ponto de partida, revivendo as situações conflitantes de sua existência. A figura da serpente engolindo a própria cauda simboliza perfeitamente essa dinâmica. Tudo está limitado pelo movimento restritivo da serpente ancestral.

Sabemos que a serpente representa a maldade e sabemos também o altíssimo nível de maldade que existe nesses ambientes acima mencionados.

O autor Valentim Tomberg, em seu estudo Meditações Sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô (editora Paulus), oferece-nos uma interessante análise do arcano A Roda da Fortuna. Nesta carta, observamos três figuras características protagonizando esse movimento circular da roda: o macaco de feições humanas na descendente, o cachorro de feições humanas na ascendente e no topo da roda uma esfinge. Tomberg decompõe a simbologia utilizando-se inclusive de conhecimentos científicos, no entanto, basta-nos aqui sua análise acerca do eterno retorno e da transcendência.

O movimento descendente é um círculo fechado do qual ninguém se evade a menos que entre no processo ascendente que conduz à transcendência, neste arcano representado pela figura da esfinge. Portanto, tão-somente o contato com Deus conduz à saída desse aprisionamento. Sem dúvida, tendo surgido no enredo da tradição

judaico-cristã, o conceito de escatologia – o término da história e a entrada do ser humano na felicidade da vida eterna – representa a condenação do eterno retorno.

Distanciar-se fisicamente desses ambientes viciados pela dinâmica do círculo obsessivo consiste no ato básico da libertação. Porém, como existem ainda consequências psicológicas e espirituais, apenas a força divina conseguirá realizar, de fato, o rompimento definitivo dos grilhões.




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