Dia 26 de Outubro de
2014, domingo. A presidente reeleita Dilma Rousseff sobe ao palanque e, diante
de seu eleitorado presente, compromete-se a impulsionar, no Brasil, um
plebiscito em favor da reforma política. O discurso não representa exatamente
uma novidade. Desde sua primeira eleição, Dilma tenta emplacar a reforma que,
na opinião de especialistas e alguns representantes da oposição, segue o modelo
das reformas colocadas em prática nos governos latino-americanos alinhados ideologicamente
ao Partido dos Trabalhadores. De fato, a proposta está entre as prioridades dos
movimentos sociais de esquerda. Mas em um cenário de grave bipolaridade
eleitoral – Dilma Rousseff não teve, então, uma larga vantagem sobre Aécio
Neves (PSDB) –, seria realmente temerário afirmar que a proposta estivesse
entre as prioridades de toda a nação brasileira. Pelo contrário, aquela eleição
ficara também marcada pelo surgimento de uma direita de rua mais organizada, e
também pela composição política mais conservadora tanto no senado quanto no
congresso.
Dilma afirmou não
acreditar em um país dividido, e estava errada. Rápido, os grupos direitistas
afrontaram o governo reeleito com manifestações repetidas que, no dia 15 de
Março, arrastaram uma histórica marca de dois milhões de cidadãos em 160
municípios brasileiros. Com gritos de Impeachment
e Fora Foro (em referência à
organização que reúne partidos e movimentos de esquerda, e é diretamente
responsável
pela ascensão dos regimes socialistas no continente), os
manifestantes contrariavam, em vias públicas, as expectativas de Dilma
Rousseff. Suas prioridades passavam muito distante da reforma política do PT, e
consistiam essencialmente no seguinte: combate à ascensão do socialismo na América
Latina, investigação de vínculos notórios entre os representantes da esquerda brasileira
e o crime organizado, redução da carga tributária e da maioridade penal. Este
cenário não permitia, de forma alguma, a suposição de que houvesse um anseio público
em prol da reforma política.
Dia 25 de Fevereiro, em
Brasília, representantes da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e
também da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lançam, em comunhão, um manifesto
defendendo a reforma política. Publicamente, os representantes das instituições
afirmam que o manifesto não é partidário, no entanto, a bancada do PT assume,
de imediato, oferecer o seu total apoio às propostas ali apresentadas, demonstrando
assim a existência de cooperação entre socialistas e bispos católicos – além de
advogados filiados a OAB. Sob a influência da TdeL (teologia da libertação), o episcopado
brasileiro empreendeu, durante as últimas décadas, campanhas da fraternidade
com temáticas propostas pela esquerda católica: reforma agrária, libertação
social, ecologia, políticas indigenistas, etc. A tendência ao socialismo dentro
da CNBB nunca chegou a ser um segredo. Se ocasionalmente ocorreram atitudes
dissonantes – no ano de 2010, a Regional Sul 1 da CNBB emitiu um documento
alertando os católicos a respeito da posição abortistas de Dilma Rousseff –
essas situações contrastavam com o histórico da instituição.
Dentro da Igreja Católica
sempre existiu certa insatisfação com a influência de ideologias socialistas
nas diretrizes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Mas até então esse
desconforto se mantinha limitado a indivíduos isolados e grupos carentes de
representatividade. Isso se devia, naturalmente, à inexistência de uma direita
no cenário do país. O ressurgimento dessa mesma tendência política demonstrando forças através de suas manifestações,
conquistando o diálogo com líderes da oposição, tornando possível o debate
sobre impeachment, e atemorizando membros da presidência certamente começará a mostrar
que todas as transformações sociais e políticas acabam tendo reflexos também no
campo religioso. Se aos católicos mais tradicionalistas faltava, até esse momento,
o poder de pressão que a massa organizada constitui, é bem provável que as
manifestações acontecidas recentemente ofereçam semelhante ocasião para essa
mudança. Se os políticos observaram-se pressionados a justificar publicamente
suas decisões, é natural acreditar que o episcopado brasileiro se surpreenda pressionado
a agir dessa mesma maneira.
Seria bastante democrático!
Olá, GABRIEL.
ResponderExcluirDia desses, assisti a uma emissão da Radio Vox em que o Dante e Alex (seu, dele, colega de transmissão) falavam sobre o alinhamento de Dom Odilo à reforma política. E a diocese de São Paulo parece não ter gostado nada da ligação ao vivo (e com toda a dificuldade de crédito do operador - dispensável, Dante, mostrar-se pobrezito! de maré-maré...)....Pois vejam só essa repercussão>>>>> http://radiovox.org/2015/04/25/arquidiocese-de-sao-paulo-emite-nota-de-repudio-contra-o-prof-olavo-de-carvalho/