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quarta-feira, 5 de julho de 2017

A VERDADE NA FILOSOFIA




Há mais de dois mil anos o prefeito da província romana da Judéia questionava: Que é a Verdade? É possível que Pôncio Pilatos não tivesse plena consciência da gravidade desta questão, e nem tampouco estivesse interessado na história dessa problemática fundamental. Mas o fato é que ele expressara em pouquíssimas palavras a dúvida que desde sempre angustiou o homem. A busca pela realidade, pelo verdadeiro é algo que perpassa o essencial de todas as religiões, e alcança um grau de sofisticação intelectual no pensamento grego: aletheia é o objetivo principal dos maiores pensadores da antiguidade. De fato, só há filosofia propriamente dita quando se almeja conhecer o real, aquilo que está por detrás das aparências, do mutável, e que subsiste para além do inconstante. Alguém que desconfie da existência da Verdade não pode jamais compreender plenamente o sentido do exercício filosófico, e nem tampouco realizá-lo, já que não havendo uma Verdade todo questionamento tornar-se-ia infrutífero. Por que alguém perderia seu tempo indagando sobre isso ou aquilo se não há nenhuma possibilidade de se chegar a conclusões definitivas? A filosofia subentende, portanto, a existência de algo real, imutável, e que, além disso, possa ser conhecido pela razão humana na medida em que esta encontra o caminho correto. Nos tempos atuais vemos que a verdadeira vocação da filosofia foi muitas vezes vilipendiada, e que determinadas linhas de pensamento incorreram em erros grotescos como, por exemplo, supor que o mero questionamento represente o fim último da pesquisa. A dúvida metódica cartesiana tornou-se a ferramenta de investigação mais utilizada pelos modernos, não no sentido proposto por René Descartes - ou seja, indagar para conhecer -, mas sim como uma forma de afrontar as tradições, de destruir a herança cultural do homem, e lançar a civilização no beco sem saída do relativismo. Contudo, a tão afamada frase que diz "não existe verdade absoluta" é uma farsa que não se sustenta, pois todo aquele que admite tal coisa está, no mesmo momento, afirmando algo de maneira peremptória, está constituindo uma verdade, e tornando uma contradição aquilo que ele mesmo havia proposto. Deste modo, podemos concordar que só existe filosofia porque existe uma realidade imutável, e que filósofo é aquele que compreende a existência do real, sente-se atraído por ele e dedica-se a obter seu conhecimento pleno. Não é filósofo de fato aquele que duvida da Verdade.

Através de Sexto Empírico nos chegam fragmentos de um longo poema escrito por Parmênides. Poucos pensadores fizeram tanto pelo estabelecimento da Verdade como algo absoluto quanto esse pré-socrático, podendo até mesmo se dizer que as bases do raciocínio lógico encontram suas origens nas especulações de Parmênides. Segundo ele, um objeto pode existir ou não, pode ser ou não, tornando-se impossível, portanto, que uma coisa seja e não seja ao mesmo tempo. Esse tipo de pensamento pode parecer estranho à primeira vista, já que o mundo natural nos confronta continuamente com transformações, paisagens que se modificam ao sabor dos ventos e dos tempos, seres que nascem e morrem, coisas que, enfim, parecem existir agora e não existir segundos depois. Essa confrontação entre o que é e o que não é, entre o ser e o não ser, entre o âmbito do imutável e o mundo das aparências é, sem dúvida nenhuma, o tema central da filosofia grega, e Parmênides mergulha profundamente nessa questão. Permanecer no devir e aceitá-lo como única realidade possível seria aprisionar-se no relativismo, constatar a inexistência da Verdade ou sua condição inacessível. De fato, a natureza revela-se como um permanente ir e vir, um fatídico nascer e perecer de todas as coisas, sendo compreensível a concepção do eterno retorno entre os antigos, já que, ainda imersos numa cultura pouco desenvolvida e tendo um conhecimento precário a respeito do sobrenatural, poucas forças tinham para transcender a materialidade. É justamente disso que Parmênides tenta fugir ao estabelecer a existência de um Ser imutável, perfeito, imóvel e imortal. Não obstante seu monismo estático parecer um tanto radical, o filósofo esforça-se por preservar a possibilidade do conhecimento, a inalterabilidade do real, e assim salvaguarda o ser humano de um mundo caótico e sem sentido. Num dos trechos de seu poema, Parmênides descreve a viagem imaginária que faz em busca da Verdade: "... as filhas do Sol se apressavam por levar-me para a luz, depois de abandonarem a morada da Noite e de com suas mãos terem retirado os véus da cabeça". A jornada rumo ao conhecimento é, desta maneira, uma passagem da ignorância para o saber, da escuridão para a luz, e apenas se nos mostra justificável porque em seu término existe aquilo que não se transforma nunca, que permanece sempre o mesmo, representando um oásis de paz e satisfação para a nossa natureza angustiada e indecisa.

A filosofia revela-se, neste sentido, uma herdeira de toda a tradição religiosa dos ancestrais. É sabido que depois de Hermann Diels e sua obra máxima - Os Fragmentos dos Pré-Socráticos - o estudo referente a esse período histórico desenvolveu-se de maneira impressionante, proporcionando o surgimento de outros especialistas de grande importância, tais como Werner Jaeger, Charles H. Kahn, F. M. Cornford, Olof Gigon, G. S. Kirk, J. E. Raven, M. Schofield, etc. Atualmente não parece haver dúvida de que o pensamento grego foi muito mais do que apenas uma superação da mitologia; a bem da verdade, devemos entendê-lo como uma evolução das imagens alegóricas do mito, um refinamento levado a cabo pela razão. De fato, muitos dos conceitos encontrados na filosofia pré-socrática, ou mesmo em Platão e Aristóteles, estavam já presentes na Teogonia de Hesíodo e nas cosmogonias órficas, mostrando que os gregos não desprezaram o conhecimento religioso, nem tampouco pretenderam diminui-lo diante da pretensa superioridade de um racionalismo semelhante ao defendido pelos iluministas. A filosofia helênica representa, dentro daquilo que comumente chamamos revelação natural, uma espécie de coroação da busca humana pela Verdade, a mais bem acabada elaboração intelectual desenvolvida por um povo cuja genialidade ousou tomar as intuições sobre realidades sobrenaturais, despojá-las dos elementos meramente fantasiosos, e apresentá-las num grau de pureza que até hoje nos espanta.

Estudando as diversas crenças religiosas de forma comparativa, percebemos uma constante que, certamente, antecipava essa busca humana pela maior compreensão do real. Trata-se da prática de sacralizar lugares, ofícios e relações. Na concepção arcaica o mundo se encontrava dividido em dois espaços claramente definidos: a ordem e o caos, o sagrado e o profano. Em História das Crenças e das Idéias Religiosas, Mircea Eliade afirma: "... o território ocupado é previamente transformado de caos em cosmo; em razão do rito, ele recebe uma forma, e torna-se real". O primitivo é um homem essencialmente religioso, e todo seu ambiente, sua atividade e sua vida encontram-se marcados pelo selo inconfundível do sagrado. Fora da sacralidade não se concebe nenhuma forma de existência; para além do rito, do contato com a divindade, das práticas purificatórias e das celebrações religiosas tudo é confusão e sofrimento. Esse dualismo deve-se, principalmente, ao caráter maligno que se atribuía ao conceito de caos. Em inúmeras tradições podemos identificar o arquétipo de um tempo primordial, no qual reinavam a ordem, a felicidade e a paz, cuja harmonia foi quebrada pela ação de um ser maligno, pelo descuido de um deus desastrado ou pelo pecado do próprio homem. Nas narrativas mesopotâmicas, por exemplo, essa ordem é continuamente perturbada pela "Grande Serpente". Na mitologia grega deparamo-nos com diversos relatos sobre o mesmo tema: na Teogonia, por exemplo, referindo-se aos homens existentes sob o reinado de Cronos, Hesíodo diz que ‘viviam como deuses, com o coração isento de cuidados, a salvo de dores e misérias’, até que essa divindade fosse destronada por Zeus, seu próprio filho; também nos mitos de Prometeu e de Pandora repete-se o mesmo tema, ou seja, o desafio lançado à ordem estabelecida, tanto movido pelo orgulho quanto pela curiosidade, e que teve por consequência o deflagrar-se da desordem, das dores e do sofrimento. Sem dúvida nenhuma, o relato mais conhecido é aquele que se encontra no Gênesis: ludibriados pela serpente, Adão e Eva tomam do fruto proibido, desobedecem o mandamento de Deus, e são lançados para fora do Éden, onde deverão padecer todos os infortúnios de seu pecado. Aí está o tema do Paraíso perdido, tão comum na história da humanidade e tão central na crença dos povos primitivos. É possível que surja, neste momento, a questão: como isso se relaciona com a busca pela Verdade? A fim de desvendar uma problemática dessa natureza faz-se necessário mergulhar profundamente no estudo das religiões comparadas, desvelar os mistérios da psicologia de nossos ancestrais, compreender suas agonias e esperanças, seus sofrimentos e consolações. Apenas assim será possível entender o quanto nos encontramos ainda tão próximos deles; elo mais recente desta cadeia, herdamos o mesmo fundo cultural milenar, e padecemos as mesmas angústias, ainda que transmutadas em formas modernas. Percebemos isso claramente no modo como os ancestrais encaravam a perda desse estado paradisíaco: a falta cometida perturbara a disposição original, afastara a divindade e transformara em caos aquilo que antes era uma perfeita harmonia. É justamente neste ponto que nos deparamos com o fenômeno da sacralização. Para o homo religious viver num mundo caótico representa sofrer todas as consequências do pecado; distante dos deuses, da imortalidade e da bem-aventurança não lhe resta nada além da amargura. Sobre os ombros do homem primitivo pesam o ininterrupto devir, as agruras do tempo e, principalmente, a morte. Pois o pecado privou-os da aliança com a divindade e fechou-lhes a porta para a vida eterna. Imersos num mundo sem sentido, onde se encontra ausente a harmonia primordial desejada por deus, nossos ancestrais tentam desesperadamente recuperar aquilo de que foram privados, e através de ritos conferem a lugares, objetos, ofícios e relações o caráter de sagrado. Uma pedra sacralizada torna-se diferente de todas as pedras existentes, por exemplo, não por algo que seja intrínseco à sua materialidade, e sim por participar daquilo que se entende por divino. Para além daquela pedra tudo é caos e irrealidade; nela reinam, no entanto, a harmonia, o selo da imortalidade e o mistério do sagrado. E assim chegamos ao ponto essencial dessa relação que há entre as tradições religiosas e a filosofia, no que tange à busca pela Verdade. Na visão primitiva só é real ou existente aquilo que se encontra abrangido pelo âmbito do divino. Ao chegarem a um novo sítio, a primeira providência tomada pelos nossos ancestrais era a de erguer um altar, na intenção de estabelecer ali uma ligação com as divindades, dando forma a um território antes caótico. Ora, se é o divino que confere um caráter ontológico ao mundo, se apenas ele pode ser considerado intrinsecamente real - diferentemente do que está além, ou seja, a irrealidade caótica -, disso deduzimos que nas tradições ancestrais a Verdade foi, desde sempre, um atributo do sagrado.

É em Platão que o laço se fecha ainda mais, unindo numa única expressão os conceitos de Verdade contidos no pensamento religioso e no filosófico. Para compreendermos isso tenhamos sempre em mente o que foi exposto sobre as tradições primitivas: o divino é aquilo que atribui o ser, a realidade às coisas e, sendo assim, apenas a ele pode podemos conferir-lhe uma existência imutável, somente ele é e continua sendo, a despeito do vaivém caótico da natureza. Temos aqui, então, o conceito de que a verdadeira realidade reside no sobrenatural, e que o mundo só pode ser considerado real na medida em que participa da sobrenaturalidade. Assimilado esse tema tão importante referente às tradições ancestrais, creio ser possível aportarmos na Teoria das Idéias de Platão. Segundo o discípulo de Sócrates, há um mundo superior, para além do mundo material, no qual residem as Idéias. Tais Idéias são, de fato, a verdadeira realidade, e seus correspondentes não são nada além do que apenas um reflexo. Uma viagem pelos diálogos platônicos revela-nos isso com muita clareza: tanto no Cármides, quanto no Laques, no Eutífron e no Hípias Maior, após conduzir os personagens por extensos debates sobre a temperança, o valor, a piedade ou a beleza, Platão comumente os leva a compreender a imprecisão desses conceitos humanos, mostrando que todas essas coisas são, no entendimento e na vivência das pessoas, tão-somente um reflexo das verdadeiras idéias de temperança, valor, piedade e beleza. Muitos especialistas discutiram a respeito da correlação entre o mundo Idéias e o mundo divino no pensamento de Platão, chegando a conclusões diferentes. Não obstante, creio ser inevitável admitir-se a similitude entre as tradições religiosas primitivas e o idealismo platônico no que tange à questão da realidade: ambos atribuem-na a um mundo que se encontra acima do natural, para além da materialidade; além disso, concordam ao afirmar que a Verdade (o real) é imutável e, portanto, absoluta, ao contrário da natureza ou da opinião dos homens, sempre inconstantes. Trata-se, enfim, da velha oposição entre doxa e episteme. O pensamento de Platão efetuou uma identificação tão perfeita entre a realidade e o mundo das Idéias, atribuindo a estas últimas o caráter da imutabilidade, imortalidade e imobilidade, e afastando definitivamente tudo isso do mundo material, que se chegou a supor ser impossível atingir a Verdade através dos sentidos. De fato, Platão não se cansava de elogiar o modo de vida teorético ou contemplativo, mostrando a importância de se aperfeiçoar a alma - a parte mais nobre do homem -, pois era, justamente, por meio dela que se poderia contemplar a Beleza, a Justiça, a Amizade, ou mesmo o Bem, a Idéia suprema, da qual todas as outras provinham. Aparentemente, a filosofia platônica lançava toda a cultura numa crise: se a Verdade só era alcançada pela busca espiritual, tornava-se inútil qualquer forma de pesquisa experimental. A resposta para esse dilema veio exatamente da Academia de Platão, por intermédio de seu discípulo, Aristóteles.

O Estagirita não se rebelou contra o conceito das Idéias, mas discordou de seu mestre ao não situá-las num mundo diverso, onde antes se encontravam absolutamente desligadas da natureza. Na visão de Aristóteles, essas Idéias eram parte constitutiva dos seres criados, sua verdadeira essência, aquilo que, não se transformando nunca, permanecia constante mesmo após a extinção das forças físicas. Desta forma, Aristóteles unia, novamente, o eterno ao passageiro, o espiritual ao material, o sagrado ao profano. A Verdade já não era um bem distante, a qual o homem só poderia atingir através da contemplação; ela também estava na natureza, dando-lhe substrato ontológico, realidade. Isso nos remete necessariamente ao conceito de sacralização presente nas tradições ancestrais. De fato, se analisarmos com cuidado, perceberemos que a linha de pensamento é a mesma: a busca por algo imutável que subsista para além do perecível, e que, unido intimamente a este, proporcione a existência e a ordem a todas as coisas. Na especulação religiosa essa união representava a renovada aliança entre a divindade e o homem. Aristóteles não define isso com tanta clareza, mas é sabido que sua filosofia serviu de base para a obra de São Tomás de Aquino.

Deste modo, chegamos bem próximo ao clímax da nossa jornada, a tal ponto que o famoso questionamento de Pôncio Pilatos - Que é a Verdade? - já não nos parece assim tão enigmático. A religião e a filosofia, ambas em busca do real, e ambas conscientes de que isto não poderia identificar-se intrinsecamente com a matéria perecível, embora pudesse sim estar unido a ela, compartilhar de sua constituição, de maneira presente e não imanente; de mãos dadas, essas duas caminharam juntas procurando aliviar as angústias humanas, amparando-se uma à outra, sempre tão ligadas e tão mutuamente necessárias, que chega a ser risível a oposição entre fé e ciência forjada pela modernidade. A religião olhando ansiosamente para o alto, saudosa da felicidade perdida, e ardendo por uma renovada aliança com a divindade; a filosofia recebendo toda essa tradição, purificando-a de elementos imaginários, e dando-lhe uma forma mais clara e racional. Ao final do período clássico da Grécia antiga, ambas se haviam aproximado bastante da aletheia, quase tocando-a, quase vendo-a na sua plenitude. Mas se afirmamos que o divino é a Verdade tão procurada, temos que entender a limitação da inteligência humana, só capaz de conhecer em parte esse mistério. Buda, Sócrates e Moisés tiveram acesso, em maior ou menos grau, a essa Verdade, contudo não se pode dizer que a tenham possuído, nem tampouco que se identificassem com ela. De fato, na história da humanidade, apenas um personagem ultrapassou essa fronteira, oferecendo a resposta que Pilatos não foi capaz de enxergar. É no capítulo XIV do evangelho de São João que Jesus Cristo afirma a respeito de si mesmo: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim". Todas as perguntas mais fundamentais do ser humano, suas angústias, esperanças e esforços convergiam na direção de Jesus, não apenas como um objetivo, mas principalmente como seu centro. Tendo compreendido esse fato com muita felicidade, Santo Agostinho escreveu em A Cidade de Deus: "Se, de acordo com a opinião mais provável e mais digna de confiança, os homens são todos necessariamente infelizes, enquanto permanecem sujeitos à morte, torna-se preciso procurar mediador que não seja apenas homem, mas também Deus, e por intervenção de bem-aventurada mortalidade, conduza os homens da miséria mortal à imortalidade feliz. Ora, semelhante mediador não devia ser isento da morte nem permanecer para sempre seu escravo. Fez-se mortal, sem enfraquecer a dignidade do Verbo, mas desposando a fraqueza da carne. E não permaneceu mortal na carne, porque ressurgiu dos mortos. Fruto de tal mediação é não permanecerem eternamente na morte da carne aqueles cuja libertação teve de operar. Era necessário, pois, que o mediador entre nós e Deus reunisse mortalidade passageira e beatitude permanente, a fim de ser conforme aos mortais no que passa e chamá-los do fundo da morte ao que permanece". Em Cristo se realizava a mais perfeita união entre Deus e sua criatura, renovando-se uma aliança rompida há tempos. Aliança eterna, que se dá na pessoa e no sacrifício do Filho, Aquele que toma sobre si toda a culpa do mundo e, aceitando sofrer a violência, refaz a harmonia entre o espírito e a matéria, as duas partes litigantes. Cristo é Deus e é homem em pacífica comunhão, e dá-se a si mesmo aos irmãos a fim de que estes também possam viver essa tão ansiada comunhão, antecipada nas tradições primitivas pela prática de sacralizar todas as coisas. Cristo é também Aquele que rompeu a barreira da morte, a ditadura do devir ininterrupto, e abriu as portas para a imortalidade. Através Dele o homem retorna ao Paraíso, recuperando sua maior felicidade, agora um bem constante, não sujeito aos perigos do tempo. Sem dúvida alguma, se o divino era a Verdade tão buscada pela religião e pela filosofia, podemos afirmar, como disse São João, que Ele "... se fez carne a habitou entre nós". E é por isso que, se antes podíamos falar da Verdade como algo a ser conhecido em parte, podemos hoje falar dela como aquilo que não somente podemos conhecer, mas podemos também comungar.


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