" " NOVA CASTÁLIA: LEANDRO KARNAL E A RUÍNA DA INTELIGÊNCIA

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quarta-feira, 22 de março de 2017

LEANDRO KARNAL E A RUÍNA DA INTELIGÊNCIA




O cenário intelectual brasileiro não é exatamente dos mais profícuos. Por esse mesmo motivo não me surpreendo com a nova polêmica que tomou conta da internet: o professor universitário Leandro Karnal, de tendências progressistas, figura televisiva e sempre muito chegado à agenda liberal dos esquerdistas, foi fotografado em um restaurante jantando com o juiz Sérgio Moro. Na realidade, a foto foi postada na página de Facebook do próprio professor, com um breve comentário acerca dos projetos que ambos teriam em comum. Todos sabem que Sérgio Moro notabilizou-se na Lava Jato, e justamente por isso tornou-se inimigo número um do petismo. Para ser sincero, quando vi a fotografia, além do fato de observar duas figuras antagônicas social e intelectualmente compartilhando a mesma cena, não cheguei considerar que a própria circunstância pudesse suscitar qualquer tipo de escândalo. Mesmo não seguindo a linha de pensamento de Leandro Karnal, admito que ele goze do status de intelectual junto a um público expressivo, e nada mais natural que, sendo assim, eventualmente se relacione com as personalidades proeminentes da nação. Mas ocorre que para a corriola esquerdista que o admirava, esse encontro soou como uma espécie de traição à causa. Parece que o careca roeu a corda.

Consta que Leandro Karnal surpreendeu-se com a repercussão causada pela circunstância e com a indignação causada entre os seguidores da esquerda. Sentar-se à mesma mesa com o inimigo número um do petismo e ainda afirmar projetos em comum é indesculpável. Karnal conheceu na pele uma das facetas mais doentias do socialismo: a perseguição ideológica a todos aqueles que saem da casinha. Mas isso não deveria causar nele tanto espanto. Na prática, Leandro Karnal sempre foi um adepto do marxismo cultural, e esse seguimento da corrente ideológica cria cenários próprios à perseguição. No máximo, o professor provou do veneno que vem ajudando a disseminar no Brasil. Suponho que não deva ter sido uma experiência muito agradável, e o referido acusou o golpe, tendo retirado velozmente a fotografia de sua página no Facebook. Publicou também uma espécie de mea-culpa patético. Enfim, queimou o filme com os esquerdistas primeiramente, e se chegou a despertar a simpatia de alguns conservadores, logo perdeu isso também ao se persignar servilmente diante desses petistas indignados.

Na justificativa esdrúxula apresentada por Leandro Karnal, o professor argumenta não enxergar problema no encontro com figuras proeminentes do cenário nacional – também eu afirmei o mesmo acima. Nisto nós concordamos. De fato, um intelectual que se preze necessita estar atento aos diversos fenômenos políticos da sociedade brasileira, e ainda que pertença a um grupo específico ou defenda determinados valores particulares, não deve se furtar ao conhecimento em primeira mão de um personagem emblemático: neste caso, o juiz Sérgio Moro. Realmente, no momento histórico atual, o magistrado ostenta um dos papéis mais importantes do país, e, tendo oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, o intelectual teria a obrigação de aproveitar. Sou um escritor de pensamento mais tradicionalista e católico por devoção, mas também não me furtaria a conhecer pessoalmente alguma figura de convicção ou credo diferentes, pois algo sempre se aproveita desse contato. O equívoco de Leandro Karnal não foi ter postado a foto com Sérgio Moro. Seu verdadeiro erro consiste em não ter sido pedagógico, e digo isso porque em seu mea-culpa, o professor gaba-se de algumas décadas ofertadas ao ensino. Diante da reação, Karnal deveria ter-se dirigido ao público com uma lição: testemunhar a história com proximidade é tudo o se exige de um intelectual. Um intelectual não se abstém dessa obrigação, e tira da experiência as conclusões que lhe parecerem mais corretas. No entanto, ao ceder tão rapidamente à investida dos seguidores esquerdistas, talvez Leandro Karnal tenha dado a entender que não merece, de forma alguma, o título de intelectual.

Se isso não fosse suficiente, em seu pedido público de desculpas, o professor cometeu uma incongruência vexatória. Na ânsia de mostrar-se compreensivo, um exemplo de tolerância, admite que seus admiradores e detratores têm total liberdade de amá-lo ou odiá-lo. Aparentemente, ele se manterá imune a isso. Nesse ato de extrema condescendência, revela o aspecto mais cômico de sua tentativa de bancar o típico sujeito inclinado a defender direitos e liberdades. Não obstante, como é possível conceder aos outros inclusive o direito de odiá-lo quando a si mesmo não concede a possibilidade de postar uma fotografia no Facebook? Em seu impulso irresistível e liberalizante, Leandro Karnal sacrifica a independência de uma suposta atividade intelectual apenas para satisfazer a sanha de um determinado grupo.

Honestamente, a figura de Leandro Karnal nunca chegou a me convencer. Se hoje essa mesma impressão deixou de ser uma particularidade minha, e tornou-se uma convicção pública, isto somente comprova que, ao fim e ao cabo, eu não estava equivocado.

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Um comentário:

  1. "No entanto, ao ceder tão rapidamente à investida dos seguidores esquerdistas, talvez Leandro Karnal tenha dado a entender que não merece, de forma alguma, o título de intelectual. "
    Muito bom!!!! Sempre sinto: são as dúvidas, não as certezas, que movem nossa mente.............
    Conheço pouco Karnal, o que já ouvi dele, além de questões políticas, me pareceu sensato. Gosto um pouco mais de Mário Sergio Cortella - admiro sua cultura ; mas acho que ele tem poucas idéias próprias, originais... E acho que é isso que estamos precisando, sabe? Pessoas que pensem mais com a própria cabeça...............

    Feliz Natal e feliz Ano Novo pra vc e sua família! Que 2018 seja de Luz ! Um abração e mande notícias :)
    Ana

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