O
cenário intelectual brasileiro não é exatamente dos mais
profícuos. Por esse mesmo motivo não me surpreendo com a nova
polêmica que tomou conta da internet: o professor universitário
Leandro Karnal, de tendências progressistas, figura televisiva e
sempre muito chegado à agenda liberal dos esquerdistas, foi
fotografado em um restaurante jantando com o juiz Sérgio Moro. Na
realidade, a foto foi postada na página de Facebook do próprio
professor, com um breve comentário acerca dos projetos que ambos
teriam em comum. Todos sabem que Sérgio Moro notabilizou-se na Lava
Jato, e justamente por isso tornou-se inimigo número um do petismo.
Para ser sincero, quando vi a fotografia, além do fato de observar
duas figuras antagônicas social e intelectualmente compartilhando a
mesma cena, não cheguei considerar que a própria circunstância
pudesse suscitar qualquer tipo de escândalo. Mesmo não seguindo a
linha de pensamento de Leandro Karnal, admito que ele goze
do status de
intelectual junto
a um público expressivo, e nada mais natural que, sendo assim,
eventualmente se relacione com as personalidades proeminentes da
nação. Mas ocorre que para a corriola esquerdista que o admirava,
esse
encontro soou como uma espécie de traição à causa. Parece que o
careca roeu a corda.
Consta
que Leandro Karnal surpreendeu-se com a repercussão causada pela
circunstância e com a indignação causada entre os
seguidores da esquerda. Sentar-se à mesma mesa com o inimigo número
um do petismo e ainda afirmar projetos em comum é indesculpável.
Karnal conheceu na pele uma das facetas mais doentias do socialismo:
a perseguição ideológica a todos aqueles que saem da casinha. Mas
isso não deveria causar nele tanto espanto. Na prática, Leandro
Karnal sempre foi um adepto do marxismo cultural, e esse seguimento
da corrente ideológica cria cenários próprios à perseguição. No
máximo, o professor provou do veneno que vem ajudando a disseminar
no Brasil. Suponho que não deva ter sido uma experiência muito
agradável, e o referido acusou o golpe, tendo retirado velozmente a
fotografia de sua página no Facebook. Publicou também uma espécie
de mea-culpa patético. Enfim, queimou o filme com os esquerdistas
primeiramente, e se chegou a despertar a simpatia de alguns
conservadores, logo perdeu isso também ao se persignar servilmente
diante desses petistas indignados.
Na
justificativa esdrúxula apresentada por Leandro Karnal, o professor
argumenta não enxergar problema no encontro com figuras proeminentes
do cenário nacional – também eu afirmei o mesmo acima. Nisto nós
concordamos. De fato, um intelectual que se preze necessita estar
atento aos diversos fenômenos políticos da sociedade brasileira, e
ainda que pertença a um grupo específico ou defenda determinados
valores particulares, não deve se furtar ao conhecimento em primeira
mão de um personagem emblemático: neste caso, o juiz Sérgio Moro.
Realmente, no momento histórico atual, o magistrado ostenta um dos
papéis mais importantes do país, e, tendo oportunidade de
conhecê-lo pessoalmente, o intelectual teria a obrigação de
aproveitar. Sou um escritor de pensamento mais tradicionalista e
católico por devoção, mas também não me furtaria a conhecer
pessoalmente alguma figura de convicção ou credo diferentes, pois
algo sempre se aproveita desse contato. O equívoco de Leandro Karnal
não foi ter postado a foto com Sérgio Moro. Seu verdadeiro erro
consiste em não ter sido pedagógico, e digo isso porque em seu
mea-culpa, o professor gaba-se de algumas décadas ofertadas ao
ensino. Diante da reação, Karnal deveria ter-se dirigido ao público
com uma lição: testemunhar a história com proximidade é tudo o se
exige de um intelectual. Um intelectual não se abstém dessa
obrigação, e tira da experiência as conclusões que lhe parecerem
mais corretas. No entanto, ao ceder tão rapidamente à investida dos
seguidores esquerdistas, talvez Leandro Karnal tenha dado a entender
que não merece, de forma alguma, o título de intelectual.
Se
isso não fosse suficiente, em seu pedido público de desculpas, o
professor cometeu uma incongruência vexatória. Na ânsia de
mostrar-se compreensivo, um exemplo de tolerância, admite que seus
admiradores e detratores têm total liberdade de amá-lo ou odiá-lo.
Aparentemente, ele se manterá imune a isso. Nesse ato de extrema
condescendência, revela o aspecto mais cômico de sua tentativa de
bancar o típico sujeito inclinado a defender direitos e liberdades.
Não obstante, como é possível conceder aos outros inclusive o
direito de odiá-lo quando a si mesmo não concede a possibilidade de
postar uma fotografia no Facebook? Em seu impulso irresistível e
liberalizante, Leandro Karnal sacrifica a independência de uma
suposta atividade intelectual apenas para satisfazer a sanha de um
determinado grupo.
Honestamente,
a figura de Leandro Karnal nunca chegou a me convencer. Se hoje essa
mesma impressão deixou de ser uma particularidade minha, e tornou-se
uma convicção pública, isto somente comprova que, ao fim e ao
cabo, eu não estava equivocado.
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"No entanto, ao ceder tão rapidamente à investida dos seguidores esquerdistas, talvez Leandro Karnal tenha dado a entender que não merece, de forma alguma, o título de intelectual. "
ResponderExcluirMuito bom!!!! Sempre sinto: são as dúvidas, não as certezas, que movem nossa mente.............
Conheço pouco Karnal, o que já ouvi dele, além de questões políticas, me pareceu sensato. Gosto um pouco mais de Mário Sergio Cortella - admiro sua cultura ; mas acho que ele tem poucas idéias próprias, originais... E acho que é isso que estamos precisando, sabe? Pessoas que pensem mais com a própria cabeça...............
Feliz Natal e feliz Ano Novo pra vc e sua família! Que 2018 seja de Luz ! Um abração e mande notícias :)
Ana