" " NOVA CASTÁLIA: O DIÁLOGO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO

Curta a Página do Autor

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O DIÁLOGO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO



Passados quase cinco séculos desde o advento da Revolução Científica, as discussões acaloradas acerca da aparente contradição estabelecida entre Ciência e Religião continuam existindo, agora campeando principalmente o terreno da internet, onde aficionados do ateísmo militante supõem tomar a herança científica como argumento decisivo contra a fé religiosa. Muito frequentemente, contudo, esses debates virtuais carecem do conhecimento profundo do verdadeiro significado de ambos os elementos desse debate: a ciência e a religião. Há grande quantidade de preconceitos no tiroteio das discussões, e muitos daqueles que defendem a primazia do conhecimento científico sobre a fé religiosa simplesmente ignoram que inúmeras das descobertas modernas não estiveram inicialmente em contraposição à principal religião do Ocidente – o cristianismo –; inclusive, pode-se afirmar decididamente que Galileu, Copérnico, Newton e Leibniz – os expoentes da Revolução Científica moderna – rechaçaram qualquer oposição entre ciência e religião, havendo entre esses quem dedicasse estudos ao conhecimento da Bíblia.
Por que é possível haver um diálogo entre ciência e religião?
Mesmo que exista um ateísmo militante propenso a acreditar que a religião seja um emaranhado de crenças absurdas desprovidas de qualquer caráter científico, a realidade é que tradicionalmente o cristianismo se desenvolveu não apenas estruturado sobre bases miraculosas, mas também sobre a tentativa de compreender o universo em estreita comunhão com o Criador de todas as coisas. O diálogo entre fé e razão encontra-se no centro da teologia escolástica, e quando São Tomás de Aquino compôs seu empreendimento filosófico em escritos que subsistiram às agruras espirituais do tempo, levou em consideração não somente a revelação cristã: o conhecimento da realidade externa e material estava na essência de suas preocupações. Antes mesmo de os expoentes da Revolução Científica afiançarem que existe uma estrutura racionalmente verificável na extensão do universo, passível de ser medida e calculara matematicamente, a teologia tomista já partia desse pressuposto ao entender que um cosmos ordenado tão racionalmente não poderia ter surgido senão como fruto de uma Inteligência divina. Nisso São Tomás seguia os passos dos gregos, principalmente Aristóteles que deu a essa inteligência a alcunha de Primeiro Motor Imóvel.
Quando Copérnico e Galileu afirmaram que a terra girava em torno do Sol e não o contrário, estavam se contrapondo a certa visão da realidade que fazia parte do senso comum científico e religioso da época, e não ao todo do cristianismo e tampouco à crença em Deus. Do mesmo modo, quando Isaac Newton publicou suas teorias acerca das leis da gravidade e do movimento dos corpos celestes não tinha a intenção de destruir a fé daqueles que acreditavam. Pelo contrário, ao ter compreendido que seu trabalho estava sendo utilizado como arcabouça para atacar a fé, empreendeu esforços no sentido de demonstrar cientificamente que a admissão de um universo matematicamente conhecível se encontrava em comunhão com todos os conceitos religiosos de um Criador.
Portanto, nisto reside um elo entre a teologia católica tradicional e os novos trabalhos científicos que surgem a partir do século quinze, e essa semelhança temática – ou seja, o entendimento de que a estrutura racional do nosso cosmos exige a existência de uma Mente criadora – está distante de ser desprezível. Se olhássemos a questão de um ponto de vista mais filosófico, descobriríamos que a revolução científica muito deve à influência de Pitágoras que afirmava serem os números o princípio do universo. Com isto, Pitágoras asseverava que o cosmos era racionalmente composto e, desse modo, também intelectualmente compreensível. O mesmo elemento filosófico encontrava-se no cerne da filosofia de Platão e Aristóteles, filósofos gregos que deitaram extensa influência na teologia católica, e exatamente por esse motivo na teologia tomista igualmente encontramos o conceito de que o homem pode compreender a estrutura de todas as coisas através da razão, e concluir dessa estrutura a existência de uma entidade divina e criadora.
Se a discussão fosse mantida nesses termos, decerto não seria impossível recuperar o sentido original da revolução científica. De fato, mesmo tendo sido atacado de muitas maneiras, o cristianismo subsiste, e também a ciência segue o seu caminho, atualmente tendo que lidar com os mistérios da física quântica. Talvez a relação entre os dois hemisférios tenha se abalado, entretanto, a reunião intelectual entre eles continua sendo passível de acontecer.

Um comentário:

  1. Quem não está aquecido
    Chama de frieza
    Quem está confortável
    Chama de ciência.
    A maioria dos amores é mesmo sem ciência:
    Carência.

    Elementos em Relatividade

    ResponderExcluir