Passados quase cinco séculos desde o advento da Revolução
Científica, as discussões acaloradas acerca da aparente contradição
estabelecida entre Ciência e Religião continuam existindo, agora campeando
principalmente o terreno da internet, onde aficionados do ateísmo militante
supõem tomar a herança científica como argumento decisivo contra a fé
religiosa. Muito frequentemente, contudo, esses debates virtuais carecem do
conhecimento profundo do verdadeiro significado de ambos os elementos desse
debate: a ciência e a religião. Há grande quantidade de preconceitos no
tiroteio das discussões, e muitos daqueles que defendem a primazia do
conhecimento científico sobre a fé religiosa simplesmente ignoram que inúmeras
das descobertas modernas não estiveram inicialmente em contraposição à
principal religião do Ocidente – o cristianismo –; inclusive, pode-se afirmar
decididamente que Galileu, Copérnico, Newton e Leibniz – os expoentes da
Revolução Científica moderna – rechaçaram qualquer oposição entre ciência e
religião, havendo entre esses quem dedicasse estudos ao conhecimento da Bíblia.
Por que é
possível haver um diálogo entre ciência e religião?
Mesmo que exista
um ateísmo militante propenso a acreditar que a religião seja um emaranhado de
crenças absurdas desprovidas de qualquer caráter científico, a realidade é que
tradicionalmente o cristianismo se desenvolveu não apenas estruturado sobre
bases miraculosas, mas também sobre a tentativa de compreender o universo em
estreita comunhão com o Criador de todas as coisas. O diálogo entre fé e razão
encontra-se no centro da teologia escolástica, e quando São Tomás de Aquino
compôs seu empreendimento filosófico em escritos que subsistiram às agruras
espirituais do tempo, levou em consideração não somente a revelação cristã: o
conhecimento da realidade externa e material estava na essência de suas
preocupações. Antes mesmo de os expoentes da Revolução Científica afiançarem
que existe uma estrutura racionalmente verificável na extensão do universo,
passível de ser medida e calculara matematicamente, a teologia tomista já
partia desse pressuposto ao entender que um cosmos ordenado tão racionalmente
não poderia ter surgido senão como fruto de uma Inteligência divina. Nisso São
Tomás seguia os passos dos gregos, principalmente Aristóteles que deu a essa
inteligência a alcunha de Primeiro Motor Imóvel.
Quando Copérnico
e Galileu afirmaram que a terra girava em torno do Sol e não o contrário,
estavam se contrapondo a certa visão da realidade que fazia parte do senso
comum científico e religioso da época, e não ao todo do cristianismo e tampouco
à crença em Deus. Do mesmo modo, quando Isaac Newton publicou suas teorias
acerca das leis da gravidade e do movimento dos corpos celestes não tinha a
intenção de destruir a fé daqueles que acreditavam. Pelo contrário, ao ter
compreendido que seu trabalho estava sendo utilizado como arcabouça para atacar
a fé, empreendeu esforços no sentido de demonstrar cientificamente que a
admissão de um universo matematicamente conhecível se encontrava em comunhão
com todos os conceitos religiosos de um Criador.
Portanto, nisto
reside um elo entre a teologia católica tradicional e os novos trabalhos
científicos que surgem a partir do século quinze, e essa semelhança temática –
ou seja, o entendimento de que a estrutura racional do nosso cosmos exige a
existência de uma Mente criadora – está distante de ser desprezível. Se
olhássemos a questão de um ponto de vista mais filosófico, descobriríamos que a
revolução científica muito deve à influência de Pitágoras que afirmava serem os
números o princípio do universo. Com isto, Pitágoras asseverava que o cosmos
era racionalmente composto e, desse modo, também intelectualmente
compreensível. O mesmo elemento filosófico encontrava-se no cerne da filosofia
de Platão e Aristóteles, filósofos gregos que deitaram extensa influência na
teologia católica, e exatamente por esse motivo na teologia tomista igualmente
encontramos o conceito de que o homem pode compreender a estrutura de todas as
coisas através da razão, e concluir dessa estrutura a existência de uma
entidade divina e criadora.
Se a discussão
fosse mantida nesses termos, decerto não seria impossível recuperar o sentido
original da revolução científica. De fato, mesmo tendo sido atacado de muitas
maneiras, o cristianismo subsiste, e também a ciência segue o seu caminho,
atualmente tendo que lidar com os mistérios da física quântica. Talvez a
relação entre os dois hemisférios tenha se abalado, entretanto, a reunião
intelectual entre eles continua sendo passível de acontecer.
Quem não está aquecido
ResponderExcluirChama de frieza
Quem está confortável
Chama de ciência.
A maioria dos amores é mesmo sem ciência:
Carência.
Elementos em Relatividade