Maria Leão nasceu em Teresópolis (Rio de Janeiro) em 15 de agosto de 1964.
Graduou-se em Arquitetura na cidade do Rio de Janeiro e trabalhou nesta profissão por 20 anos. Estudou Roteiro Cinematográfico na Escola de Cinema Darcy Ribeiro em 2009. Tem escrituras de longa-metragem, e concorre constantemente em concursos de roteiro. Duas peças de teatro ‘Contrária: do vulto das mulheres selvagens’ e ‘Jabuticaba’ que ganhou menção honrosa no concurso de dramaturgia do Instituto Guilherme Coussoul em Lisboa em 2014. Tem também dois roteiros de curta-metragem filmados: ‘As Bodas’ em 2010 e ‘Esboço’ em 2011.
Publicou o primeiro romance com o título ‘Morangos Selvagens’ em março de 2015, pela Chiado Editora, em Brasil, Portugal, Angola e Cabo Verde.
Proprietária e idealizadora do Hostel A Casa Azul em Teresópolis desde julho de 2015, cuida da produção dos detalhes da decoração, costuras, pátinas, pinturas decorativas, recebe os hóspedes e prepara o café da manhã artesanal. Busca direcionar a vocação deste espaço para a cultura, oferecendo encontros como o dos Poetas Azuis, evento onde os convidados recitam poemas autorais ou não com a palavra azul.
Gabriel Santamaria: Você me contou que seu romance Morangos Selvagens era originalmente uma peça de teatro. Como surgiu a ideia do livro? E como foi transformar uma peça teatral em romance?
Maria Leão: Primeiro quero agradecer esta oportunidade e te dizer, Gabriel, que é uma satisfação ser entrevistada por você, meu hóspede aqui do Hostel. Como é importante conhecer as pessoas ‘mano a mano’! Este nosso contato virtual tornou-se muito mais sincero apenas pelo fato de nos termos conhecido e conversado um pouco sobre literatura.
Eu descobri que conseguia escrever para o teatro em 2011, com alguns cursos que fiz no CAL (Centro de Artes de Laranjeiras), cursos como atriz, não por querer ser atriz, mais para entender a dinâmica do diálogo, este era o meu objetivo. Escrevi Morangos Selvagens como peça teatral em 2011 e tentei oferecer a alguns diretores para encenar. Embora o texto tenha sido bem aceito e elogiado, não consegui nenhum interessado, eram momentos difíceis. Uma crítica que recebi de uma diretora mineira (não quero citar nomes), era de que havia uma necessidade de explorar mais a psique das personagens, porque eles estavam respondendo ao pingue-pongue de ação e reação, e que se ela fosse dirigir a peça, antes faria um laboratório para criar as justificativas das ações dos personagens. Como isso não aconteceu, e o projeto ficou parado por um ano, em 2013, resolvi eu mesma fazer este laboratório, pois entendi que não poderia mais esperar por outras pessoas, eu precisava fazer esta história sair do meu domínio de alguma forma. Como não sou diretora, nem produtora, nem atriz, sou apenas escritora, decidi transformar Morangos Selvagens em uma linguagem que pudesse ser entendida em palavras, compreendendo nela, todos os aspectos psicológicos, filosóficos e existenciais das personagens e seus satélites. Até aqueles que não são ditos, mas sugeridos, de forma que o leitor atento consiga captar. Eu sinto a história totalmente traduzida nas palavras, independente do gênero literário que o texto se configure. Eu me sinto realizada. O livro foi publicado em março de 2015.
Gabriel Santamaria: Morangos Selvagens é um romance que, de certo modo, aborda o choque entre as personagens de Mãe e Filha, o que também significa dizer que existe um choque de gerações. Você acredita que crises dessa natureza sejam inerentes às relações humanas?
Maria Leão: Sim. Embora seja imprevisível como se dará as próximas gerações. Visualizo muitas mudanças. Os que repetem os padrões de comportamento estarão destinados a manter os conflitos. Mas os filhos e filhas que estão buscando um entendimento diferente, talvez encontrem novos conflitos em suas histórias que possam abrir novos caminhos sociais. É que olhando pelo viés do senso comum, sem querer ser uma generalista, enquanto somos pais ainda estamos na busca de acertar a vida, já os avós, que tiveram sua chance, tendem a enxergar melhor o que os pequenos demonstram de sinais de sua originalidade. Os avós estão mais relaxados. Os pais estão muito próximos dos pequenos e carregados de cobrança. Isso não quer dizer que não aja amor. Há muito amor em jogo. Diversas formas de amor. Um turbilhão de formas de amor. A linha direta do amor reprimido, recusado, rejeitado é o ódio, e isso se transforma numa sombra que é refletida em tudo aquilo que os pequenos vão fazer enquanto crescidos. E não conseguem ser adultos.
Gabriel Santamaria: O livro conjuga literatura e culinária. Você é dona de um hostel e costuma receber pessoas constantemente. Como essa experiência cotidiana fecunda seus escritos?
Maria Leão: Ia fazer uma piada, mais seria um spoiler.
Eu adoro comer uma comida bem preparada. Adoro assistir programas culinários, ver as pessoas, os chefs preparando comida, mesmo que eu não tenha paciência de ser tão criteriosa quando vou preparar meu almoço. Aqui no Hostel, ofereço um café da manhã bem caseiro e gosto de conversar com os hóspedes neste momento, enquanto os sirvo. É lindo! Uma fonte de energia e trocas muito forte. Conhecer e me deixar ser conhecida. Isso me inspira em criação de personagens mais reais. Não que eu vá transcrever a história das pessoas, não é isso. É a energia de cada um que é inspiradora. E também é uma excelente forma de mostrar o meu trabalho como escritora. Olha só o nosso exemplo!
Gabriel Santamaria: Quais foram as dificuldades encontradas no caminho de publicação desse romance?
Maria Leão: Nenhuma editara brasileira se interessou. Algumas até responderam que só leriam originais com uma carta de apresentação de algum autor da editora. Restou-me apenas a publicação por minha própria conta. Fiquei deprimida por uns meses. Deixei o livro quieto. Um dia, na verdade, numa madrugada, depois de conversas intensas com amigos e algumas garrafas de vinho, cheguei em casa, redigi um email e fiz uma busca no Google de editoras de língua portuguesa que leem originais de desconhecidos. A Chiado Editora respondeu dois dias depois, leu meu original, que estava registrado no Escritório de Direitos Autorais (o que todo autor deve fazer com sua obra, antes de qualquer coisa), e me fizeram uma proposta, que eu aceitei. Eu tive que pagar, parcelado, e se eu precisar de mais exemplares, tenho que pagar, mas em contrapartida, a Chiado me ofereceu E-book na Amazon, site de vendas como a dela própria para toda Europa, e no Brasil na Livraria Cultura, livrarias como a Blooks em Botafogo, enfim, um lugar no mundo, que se eu tivesse editado por conta própria, não teria. Eles foram bem legais e agora vão me levar para a Bienal do Rio.
Gabriel Santamaria: Quando você está escrevendo, quais autores exercem maior influência em sua literatura?
Maria Leão: Não só autores, tudo exerce influência em mim. Sou um filtro ambulante.
Mas sou super fã de Valter Hugo Mãe, Amos Óz, Phillipe Roth, João Ubaldo Ribeiro, Machadão, Saramago, Cecilia, Clarice, Harold Pinter, Fernanda Young, você, entre outros.
Gabriel Santamaria: Clarice Lispector disse, certa vez, ter se sentido chocada com a leitura do romance O Lobo da Estepe do escritor alemão Hermann Hesse. Maria Leão já se sentiu chocada com a leitura de alguma obra literária?
Maria Leão: Chocada não, mas tocada sim. ‘O filho de mil homens’ de Valter Hugu Mãe me fez decidir a tentar escrever uma obra literária e escrevi Morangos Selvagens.
Gabriel Santamaria: Você mora em Teresópolis (RJ) e participa intensamente da vida cultural da cidade. Fale um pouco a respeito desse contato com o círculo de escritores da cidade.
Maria Leão: Teresópolis é uma cidade privilegiada não só pela natureza: montanhas e clima, mas por moradores artistas. É uma maravilha! Muitos poetas, compositores, escritores moram aqui ou na serra carioca. Acho que, como eu, gostam do silêncio. Ao menos, foi esta minha decisão de deixar o Rio e viver aqui, no Hostel. Nos encontramos para ler poesia, contos, saraus. Dia 18 faremos um encontro aqui no Hostel, os Poetas Azuis, com lareira acesa, caldos, pastinhas e vinhos e muitos textos que tenham a palavra azul, pode ser: poemas, contos, músicas, piadas, raps, repentes, palavrões, enfim..., só vale com a palavra AZUL.
Gabriel Santamaria: Se não me engano, você já residiu no exterior. De que forma essa experiência acrescentou à sua formação literária?
Maria Leão: Residi não. Mas é meu maior desejo neste momento. Viajei. E em cada viagem que fiz minha mente se expandiu. Se pudesse, faria uma viagem interplanetária.
Gabriel Santamaria: Você estará na próxima Bienal, não é mesmo? Quais são suas expectativas?
Maria Leão: Ansiosa. Estou preparando marcadores de livros com frases do Morangos Selvagens e vou oferecer geleia de morango com torradinhas.
Vou falar um pouco sobre o processo da escrita, e também da relação mãe e filha, que é o tema central desta história. Será a primeira vez que participarei de uma Bienal. Ano passado, participei de duas feiras, foram bem interessante, principalmente a FLIM de Madalena.
A minha participação na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro para o dia 06/09 (quarta-feira) das 19h00 às 19h50.
Se puder, apareça.
Gabriel Santamaria: Fale um pouco acerca de seus projetos literários para o futuro.
Maria Leão: Tem um segundo romance a caminho, com o título provisório ‘Na órbita das coisas’. Tem um pouco do tom psico-filosófico do Morangos, mas tem suspense, investigação policial. Está mais fragmentado, com elipses temporais. O tema abordado é invasão. As barreiras da invasão de espaço físico, psicológico, virtual. Qual o limite? Até aonde se pode chegar?
Li Morangos Silvestres e me emocionou.
ResponderExcluirDesde então espero o novo filho, agora anunciado.
Para encerrar encontrei o Imperador e dei um grande abraço pela conclusão de mais uma etapa
Bjs
PS: Luciano Menezes
Gostei da entrevista. Parabéns pelo diálogo.
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