Quando mais jovem, tive a intenção de seguir a vida monástica, e me aventurei a uma sequência de tentativas vocacionais em alguns mosteiros. Confesso terem sido experiências interessantes, e guardo a respeito disso memórias que, futuramente, pretendo explorar em textos autobiográficos.
Penso que tivesse então boa vontade, mas mesmo assim não perseverei no caminho religioso. Havia em mim uma sede de vivências mais mundanas, digamos assim, e não me refiro aqui ao mundanismo mais baixo. Se uso esse termo é pretendendo aludir ao contato maior com pessoas e com a amplidão do mundo criado.
De fato, Deus criou todas as coisas, logo tudo é bom. A vida monástica, porém, sugere o recolhimento como forma de encontrar a presença do Senhor no íntimo da criatura. Acerca disso, muitos autores espirituais ensinaram o caminho que conduz o homem a essa morada interior de Deus.
Mesmo tendo retornado à existência laical, tento seguir um ritmo apropriado de oração, dividindo o dia em horários precisos a exemplo daquilo que as regras monásticas ensinam. De certo modo, sou uma espécie de monge. Um monge sem comunidade monástica, vivendo a rotina de uma cidade grande como São Paulo, fruindo o silêncio e a solidão na medida do possível.
Isso me fez concluir que a vocação nem sempre encontra um lugar propício. Às vezes, ela não se limita a um espaço determinado, a uma regra concisa.
Ser um monge é algo mais complexo do que trajar um hábito tradicional e habitar ocasionalmente o coro.
Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).
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