Durante os primeiros minutos de A Grande Beleza, direção de Paolo
Sorrentino, eu me senti entediado. Pareceu-me que o filme, logo no início,
exagerava na composição geral do cenário, descuidando-se do enredo central. Os
turistas habituais de Roma, o esplendor histórico da capital italiana, as
reuniões da alta sociedade… Até que a história seja centralizada em Jap
Gambardella (Toni Servillo), é preciso admitir que tudo se arrasta um pouco.
Mas o tédio não é, afinal, somente o efeito produzido pelo estilo do
diretor. O protagonista de A Grande Beleza, Jap Gambardella, mergulhou, décadas
atrás, em uma existência de festanças e dolce
fa niente depois de haver publicado O
Aparelho Humano, romance aclamado tanto pelos críticos quanto pelo público.
Estagnada, sua carreira tornou-se o rememorar cansativo dessa glória dos
primeiros tempos.
Mesmo decadente, Roma insiste em pretender-se grande. Há algo de grotesco,
de frívolo, de depressivo, de falsificado no meio que Gambardella frequenta, e
aos 65 anos ele compreende esse fato perfeitamente. Todos, inclusive ele, admitem
vivenciar a própria falsidade e conviver com a falsidade dos demais: a mentira
é mais viciante que álcool e cocaína.
É necessário que você entenda isso caso queira realmente apreciar A Grande
Beleza. O filme trata, sobretudo, da decadência. A decadência de um indivíduo,
da alta sociedade circundante, da capital de um antigo Império, das artes, da
cultura, dos relacionamentos humanos, e até mesmo do clero católico. Tudo está
decrépito, tudo está caindo aos pedaços, tudo, absolutamente tudo está
morrendo.