Franz
Kafka tratava sua vocação literária como “o seu chamado”. Passou a existência
inteira em um anonimato quase completo. Um funcionário burocrático, escrevendo
nas horas vagas, incomodado com a falta de tempo para se dedicar aos escritos.
Autor de romances e contos, quase sempre inacabados. Depois da morte, pediu a
seu amigo – Max Brod – que destruísse seu legado literário. Sorte nossa que
Brod desobedeceu a ordem expressa de Kafka, e deu os títulos à publicação,
escrevendo também sua principal biografia.
Como
um escritor vivendo em uma espécie de anonimato, sentindo a literatura como um
chamado particular, observo semelhanças entre mim e Kafka. Também em alguns de
meus livros, o absurdo se manifesta ocasionalmente. Por exemplo, em meu romance
mais recente: O Arcano da Morte. Pesa-me diariamente a situação contrastante de
me saber detentor de uma vocação, sem ter encontrado os meios suficientes para realizá-la
em tempo integral. Sinto tal desconforto, a sina dos escritores que vieram ao
mundo sob o signo da contradição.
Se
o futuro, ao menos, me garantir a glória que, em vida, me tem sido negada, isto
servirá como consolo.
Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).
Nenhum comentário:
Postar um comentário