Os olhos atentos desdobram
a seda tênue do horizonte,
e lá o colibri repousa
em árvores calmas no monte.
Para além se estende o rio
e ouço o murmúrio das águas,
o choro dos que se banharam
e escorreram o fel das mágoas.
Há sempre no amanhecer
aromas de renovação
nas frutas silvestres do campo
e na substância do pão.
À tarde, os homens repousam
do labor valoroso e rude,
e quem se devota à estrada
caminha com solicitude.
Os seres que existem se movem
em uma ciranda vital –
no ritmo das estações
encena-se o bem e o mal.
Se o destino que me acomete
é o contraste do sentimento,
nestes versos que me libertam
saboreio o contentamento.
A força do tempo define
o curso dos rios e da vida,
mas é o amor que nos conduz
à plenitude concebida.
É na esperança dos teus beijos
e nos teus braços de mulher
que sonho, enfim, o meu abrigo
e aquilo que o corpo requer.
O rosto de Deus se revela
em todas as coisas criadas:
na relva de cores luzentes,
no pastoreio das manadas
e nestas saudades também...
Sim, nas saudades renitentes
que tecem costuras nas tardes
com fios de carícias ausentes.
De terras que a rota destina
os ventos sussurram mudanças
claras como tons da manhã
e risonhas como crianças.
Sem receios, eu sigo sinais
e ao término destes caminhos,
é certo que tenha o consolo
de deleites e não de espinhos.
Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).
Amei o texto. Lindíssimo !
ResponderExcluir