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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A PROFECIA DE FÁTIMA E O BISPO VESTIDO DE BRANCO



Neste ano de 2017, comemoramos o centenário das aparições marianas em Fátima. Desde então, os chamados segredos de Nossa Senhora, entregues a três crianças portuguesas, despertaram muito interesse, sobretudo a terceira parte que foi mantida em sigilo por décadas. No papado de João Paulo II, essa terceira parte foi finalmente revelada, e descobrimos que ela tratava de guerras e do assassinato de uma figura que na maioria das vezes é interpretada como o Papa, embora Irmã Lúcia – uma das crianças – houvesse escrito literalmente um “bispo vestido de branco”.
Que o prelado católico vestido de branco sempre foi o Sumo Pontífice da Igreja, disso ninguém duvida. Porém, recentemente tivemos uma situação muito diferente, ocorrida raras vezes na história do catolicismo, a saber: a abdicação de um Papa – Bento XVI –, atualmente chamado de Papa Emérito. Ostentando também o branco em suas vestimentas, o alemão vive no Vaticano, e quase não aparece em público.
Depois da abdicação e da eleição do Papa Francisco, alguns teólogos católicos discordaram do título atribuído a Ratzinger. Segundo eles, não existiria, de fato, a possibilidade real da existência de um papado emérito. Ou seja, tendo renunciado ao trono de São Pedro, o antigo Sumo Pontífice deixava automaticamente a condição de Papa. Isto significaria afirmar que Bento XVI teria retornado, assim, ao estado episcopal.
O que concluir disso? Se Bento XVI voltou a ser um bispo, é natural que o vejamos como um “bispo vestido de branco”. De fato, nas profecias de Catharina Emerick, há menção acerca da coexistência futura de dois papas e duas igrejas, uma delas menor e outra maior. Em Fátima, na visão dos pastorinhos, o “bispo vestido de branco” conduz uma igreja diminuta por uma cidade arrasada pela guerra, até ser atingido por balas e flechas, em comunhão com sacerdotes, religiosos e outros católicos que o acompanhavam.
Para algumas pessoas, referir-se ainda ao segredo de Fátima como algo não ocorrido parece anacrônico. Mas Bento XVI, antes de encerrar seu ciclo à frente da Igreja, afirmou que se enganava quem acreditasse que as mensagens de Fátima estavam encerradas. Sem dúvida, talvez os acontecimentos atuais do catolicismo lancen luzes renovadas a respeito das palavras enigmáticas dessas profecias.

Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).


quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A CORÉIA DO NORTE E A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL



Nos fóruns de debates da internet, sobretudo naqueles que estimulam as teorias conspiratórias, a iminência de uma terceira guerra mundial vem sendo discutida há tempos. A choque entre ocidente e oriente, ou seja, EUA e seus aliados contra Rússia, China e países do bloco eurasiano cria o cenário mais que perfeito. Quando os russos entraram no conflito da Síria, um território onde os americanos já atuavam, parecia que essa proximidade seria o estopim de uma crise maior. Desde então, Vladimir Putin tratou de assegurar o regime de Bashar al-Assad, embora os EUA fomentassem grupos que lutavam contra o ditador sírio. Donald Trump, em um arroubo inesperado, atacou diretamente o território da Síria, abalando as relações com a Rússia, mas nem isso deflagrou necessariamente a terceira guerra mundial.
Nos últimos dias, essa possibilidade veio à tona outra vez com o míssil lançado pelos norte-coreanos que sobrevoou o Japão. Pela internet, os debates se acaloraram. Seria Kim Jong-Um, o ditador da Coréia do Norte, louco o suficiente para atacar os americanos de frente? E se isso acontecesse, a consequência seria um conflito direto que colocaria russos e chineses contra as potências ocidentais?
Desde a segunda guerra mundial, o mundo vive sob o temor de um cataclisma nuclear. Com a queda do comunismo, durante alguns anos, esse medo deu a impressão de ter-se tornado assunto do passado, conquanto essa impressão fosse realmente fantasiosa, afinal, em poucos anos, russos e chineses reformaram seus exércitos com os armamentos mais modernos, reequilibrando a balança, e pretendendo exercer influência sobre a política externa. Hoje uma guerra que colocasse frente a frente as potências do Ocidente contra o bloco chamado eurasiano soa novamente o alarme no que tange à possibilidade dessa tão ameaçadora guerra mundial. Será que chegamos a uma nova encruzilhada histórica ou as ameaças norte-coreanas representam outro problema contornável, como parece ter sido a guerra na Síria?
Os próximos capítulos dessa novela certamente oferecerão mais clareza às análises.

Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).


terça-feira, 29 de agosto de 2017

A LEITURA COMO COISA ESSENCIAL



Quando a sociedade não consegue encontrar um equilíbrio pleno entre os bens materiais e as virtudes intelectuais, sucede um tipo de situação em que toda relevância é oferecida ao que é passageiro, e quase nenhuma importância é atribuída às coisas do espírito.

Se um povo não concebe a literatura como algo essencial, se não faz dos bons livros um consumo de primeira importância, cai vertiginosamente em um estado de terrível mediocridade. Torna-se vago e superficial. Não deixa jamais de escorregar em um terreno lodoso, e nunca se firma a si mesmo de modo consistente.
Tratar esse assunto de modo genérico é somente uma forma de analisar a questão. De fato, toda solução parte de uma tomada de consciência, e essa atitude é extremamente individual. Ou seja, enquanto cada qual não se responsabilizar por fazer dos livros algo imprescindível, não existirá uma circunstância favorável.
Portanto, é urgente que cada indivíduo assuma sua parte no processo de autoeducação, dando ao cultivo da leitura a importância que ela necessita ter.

Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

SANTO AGOSTINHO, O BISPO AFRICANO

Dias atrás, recordava-me de Santo Agostinho. Um dos pilares teológicos do cristianismo, bispo africano que combateu heresias e escreveu obras fundamentais. Durante a juventude, em busca da sabedoria, bebeu na fonte da filosofia, sobretudo o neoplatonismo e o estoicismo. Também se enamorou do maniqueísmo, e depois de uma existência pessoal bastante atribulada, se aproximou da conversão.
Segundo os biógrafos, Agostinho tornou-se um intelectual reconhecido em sua região, e cristãos dedicados ao conhecimento eram candidatos naturais ao sacerdócio. Ocorre que esse, em particular, ansiava somente formar um círculo de homens dedicados à contemplação sapiencial, sendo assim, evitava a todo custo tornar-se presbítero. A despeito disso, em dado momento, acabou ordenado sacerdote contra sua vontade.
Quando morreu, Agostinho havia deitado muita influência em Hipona e circunvizinhanças, mas estava distante de ser considerado uma das bases teológicas da Igreja. Com o decorrer do tempo, no entanto, suas obras conquistaram a importância merecida, e iluminaram o pensamento de todo o Ocidente.
Hoje comemoramos Santo Agostinho. Que ele interceda por nós e continue servindo como modelo.

Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).


domingo, 27 de agosto de 2017

ENTREVISTA COM O ESCRITOR HILTON VALERIANO



Hilton Valeriano é formado em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), Pós-graduado em filosofia da educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pedagogia e História pela Universidade Metropolitana de Santos (Unimes). É professor e coordenador pedagógico na Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo.

GABRIEL SANTAMARIA: Caro Hilton, sua formação acadêmica sintetiza filosofia, pedagogia e história. Quais foram, em essência, os interesses intelectuais que conduziram você a trilhar esse caminho?

HILTON VALERIANO: Meu interesse pela filosofia surgiu por questões existenciais. Na verdade, poderíamos perguntar: como se interessar de forma legítima pela filosofia que não seja por questões existenciais? As grandes questões atemporais que marcam a humanidade em seu percurso existencial e que acabam por transcender a contingência histórica: felicidade, amor, morte, Deus, justiça, o bem e o mal etc. Todos os questionamentos que surgem dessas “temáticas” filosóficas podem ser sintetizados na questão maior sobre o Sentido do Ser, ou da vida.  A filosofia não é monopólio de acadêmicos e, tampouco, se constitui de títulos. Evidentemente, a filosofia possui uma Tradição, e não pode prescindir dela. Mas essa Tradição se constitui pelas grandes “temáticas” filosóficas, ou seja, em última instância, a vida. Eu diria que a filosofia, ou melhor, o espírito filosófico é essencial, e está sempre ameaçado por ideologias autoritárias que visam impedir o exercício da consciência crítica. Essas ideologias também podem surgir no mundo acadêmico quando querem fazer da filosofia exercício de comentários textuais ou meros instrumentos retóricos de ativismos partidários. Com isso não quero dizer que o mundo acadêmico e sua formação não sejam importantes; apenas que a filosofia não se restringe aos muros da universidade. A história e a pedagogia foram decorrentes do magistério.

GABRIEL SANTAMARIA: Seu livro Margens busca recuperar o gênero dos aforismos. Como a revalorização desse gênero em particular contribui para a cultura contemporânea?

HILTON VALERIANO: O gênero aforismo tem suas origens na Grécia, possui grande tradição nas filosofias francesa e alemã, além de uma grande presença atual na Espanha. Sou um escritor independente, como tantos escritores por esse país. Tenho consciência de minhas limitações. Na verdade, não me preocupo com isso. Agora em termos de contribuição cultural, é sempre bom ter a diversidade de fato e, sobretudo, espaço para que ela ocorra. Vivemos o monopólio da cultura de massa. A palavra pluralidade sempre está em voga nos discursos políticos, mas o que vemos é a homogeneização constante, a imposição da padronização da indústria cultural na música, nas artes plásticas, no cinema e no mercado editorial. Conheço inúmeros escritores independentes de alta qualidade, poetas, romancistas, contistas, ensaístas. A verdadeira diversidade existe, mas o mercado, ávido por lucro, não quer que ela se manifeste. As redes sociais se tornaram um caminho para a luta contra esse monopólio da anemia cultural. Pequenas editoras de diversos gêneros têm feito a diferença. É uma questão de procura.

GABRIEL SANTAMARIA: Você escreve: "Nem mesmo no amor prescindimos da solidão". Muitos escritores tiram proveito da solidão em seu trabalho. Como essa experiência fecunda sua escrita?

HILTON VALERIANO: Preciso da solidão apenas para escrever e repensar o que escrevo. Margens não nasceu da solidão. Nasceu da experiência concreta da vida, no trabalho, ônibus, faculdade, lar e de inúmeras leituras.  Sou um observador da vida. Observo, reflito e escrevo. Observar, refletir e escrever mediante vivências. Acredito que o leitor possa perceber esses aspectos em meus aforismos. Espero.

GABRIEL SANTAMARIA: Você me disse que durante certo tempo entrevistou outros escritores em um blog. Como foi essa experiência e como é a sua relação atualmente com os demais autores?

HILTON VALERIANO: Eu diria que foi uma grande experiência. A certeza de que existe literatura de qualidade, independente, que não se curva aos ditames do mercado editorial e suas frivolidades voltadas para o lucro. O objetivo era divulgar esses escritores. Foram muitos. Tenho contato com muitos deles. Vou citar alguns grandes poetas, romancistas, desenhistas e pintores da época do Poesia Diversa e que merecem ter sua obra conhecida: Silvério Duque, Iacyr Anderson Freitas, Jorge Tufic, Majela Colares, Nydia Bonetti, Andréia Carvalho, Cláudio Neves, o grande romancista Karleno Bocarro, os artistas plásticos Felipe Stefanni e Felipe Góes. Da época do Poesia Diversa, eu conheci o poeta Gustavo Felicíssimo, editor da Mondrongo, pela qual Margens foi lançado. Através do Gustavo, conheci dois grandes escritores que se tornariam grandes amigos: Jorge Elias Neto e W. J. Solha. Interlocutores com quem sempre estou aprendendo. Devo muita gratidão a esses dois. Não posso deixar de citar o belíssimo trabalho da Mondrongo. Esse ano, tive contato com duas obras poéticas de altíssima qualidade: Natal de Herodes, do poeta Wladimir Saldanha, e Auto da Romaria, do poeta João Filho. Um belíssimo trabalho do Gustavo em encontrar escritores de grande talento. São muitos nomes. Peço perdão pelos que não foram citados. A inspiração para o Poesia Diversa foi o trabalho do poeta Soares Feitosa, pioneiro em divulgação de poesia na internet com seu Jornal de Poesia.

GABRIEL SANTAMARIA: Um dos aforismos do livro expressa o seguinte: "Para aqueles que foram felizes há um momento em que a morte se faz necessária." Considerando que atualmente a cultura hedonista cria distrações que nos afastam dessa realidade da morte, como fazer para que o ser humano compreenda novamente a importância dessa questão?

HILTON VALERIANO: Quando se perde o horizonte da transcendência, evita-se a todo custo questões cruciais ligadas à vida. Nossa época é banal porque reivindica para si um horizonte totalmente materialista. O homem moderno quer viver num autoexílio espiritual, mas se recusa a assumir sua finitude. O homem moderno não quer ter alma, mas não consegue lidar com seu niilismo. Essa evasão de si só pode ser preenchida pelo subterfúgio de uma cultura hedonista, cujo principal objetivo é obstruir a capacidade intelectual do homem de indagar sobre as questões cruciais de sua vida, ou seja, as “temáticas” existenciais que alimentam o questionamento filosófico. É preciso lutar contra a tirania do secularismo.

GABRIEL SANTAMARIA: Com quais filósofos o seu trabalho intelectual dialoga com mais afinidade?

HILTON VALERIANO: Platão, Santo Agostinho, Blaise Pascal, Chesterton, Kierkegaard, o estoicismo, Nietzsche, Karl Kraus, Camus, Ricoeur, Montaigne, Cioran, os grandes moralistas franceses La Rochefoucauld, La Bruyère, Vauvenargues e Chamfort.  

GABRIEL SANTAMARIA: Quando você escreve que "por viver de crenças e não de certezas o ser humano não é capaz da verdade", isso me parece uma influência do ceticismo em sua ótica filosófica. Como você encara o destino da existência humana nessa realidade na qual o que é verdadeiro se encontra inacessível?

HILTON VALERIANO: Penso que o homem não pode, por essência, ter posse da certeza absoluta, pois sua natureza é contingente, sujeita ao tempo, portanto, histórica. Mas a impossibilidade da certeza absoluta não impede a posse da verossimilhança, daquilo que foi conquistado pelo pensamento humano ao longo dos séculos e, se torna, assim, patrimônio de uma “verdade” comum. Ponho-me do lado da razão, da tradição agostiniana do credo ut intelligam, de uma perspectiva filosófica alimentada por elementos da fé que são apropriados como categorias de reflexão. Devemos em qualquer tempo nos opor contra o espírito do Grande Inquisidor. A fé deve sempre estar aberta para o mistério da vida, mesmo que isso seja em certos aspectos uma ameaça ao dogma, à doutrina. Uma fé isenta de dúvida, é uma fé morta pelo conformismo do costume que pode degenerar em fanatismo. Devemos ter em mente que quando falamos de História, falamos do ser humano, de sua natureza propensa ao bem e ao mal. A famosa parábola do joio e do trigo pode ser aplicada aqui, a dualidade humana, que traz dentro de si a possibilidade do vício e da virtude, da verdade e da mentira. Em seu tratado A verdadeira religião, Santo Agostinho nos diz: “A primeira deformidade da alma racional é a vontade de executar o que a suma e íntima Verdade lhe proíbe.” Não teríamos a verdade apenas pelo avesso? Pela revelação da mentira que caracteriza inúmeros atos humanos ao longo dos séculos? Vejo o ceticismo como um ato de prudência em relação às nossas falhas. É mais um mecanismo de defesa contra a usurpação da dimensão racional que nos caracteriza, mas que também, não está isenta de erro. Não sou um cético propriamente falando. 

GABRIEL SANTAMARIA: Qual a sua posição pessoal diante das manifestações do sagrado?

HILTON VALERIANO: Pode o sagrado prescindir de uma tradição? O homem é um ser que se apropria de significações, ao tempo em que cria outras. Ele é, por essência, instaurador de sentido. O Cristianismo foi responsável, durante séculos, por um processo civilizador de amplo espectro. Vive sua crise, mas se mantém como uma proposta de significação existencial incomparável, em relação às outras grandes narrativas - no dizer de Paul Ricoeur - como o Iluminismo ou o Marxismo.  Podemos pensar que essa crise tem demonstrado os limites da subjetividade humana, da herança filosófica do cogito cartesiano, quando nos deparamos com o vazio presente nas artes, na literatura, e mesmo na filosofia. Vivemos o encarceramento do “eu”, da autorreferência. Consequentemente, refletimos a ausência de conteúdo em obras literárias, uma verdadeira afasia, além da polissemia estéril no campo das artes plásticas, onde tudo pode ser dito por nada significar. Evidentemente, há exceções que rompem com essa estética do feio, da desfiguração, do sem sentido. Não sou contra a modernidade, vanguardas e experimentalismos artísticos. É preciso ter em mente que a crise do cristianismo é, em seu âmago, a crise da transcendência, e a crise da transcendência, é a crise da dimensão sacra, é a recusa não apenas do cristianismo, mas também da tradição grega. Penso em uma perspectiva dialética. Por isso, a crise da transcendência é também a crise da razão. No dizer de Pascal: “O último passo da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Ela é apenas fraca se não vai até reconhecer isso. Que se as coisas naturais a ultrapassam, que se dirá das sobrenaturais? Sou cristão por ser herdeiro de um patrimônio cultural de milênios, por habitar simbolicamente sua cosmovisão, por agir moralmente a partir de suas dimensões morais, por usufruir de sua estética. Pensar o cristianismo em seu desdobramento cultural, ou seja, na teologia, nas artes plásticas, na filosofia, na literatura, na arquitetura e música, além da esfera ética e política, é impossível, sem a referência a seu “corpo” institucional, seja ele católico ou protestante. Mas é possível ser católico ou protestante de uma forma muito específica, singular. Eu diria até mesmo que a essência dessa grande narrativa existencial estaria na singularidade de quem a assume, de quem incorpora essa narrativa, que, portanto, sempre transfigura a história. Como disse o apóstolo: “há muitas moradas na casa de meu pai”.

GABRIEL SANTAMARIA: Você afirma que "quando na política o poder é o único fim almejado, os interesses privados predominam em detrimento das necessidades coletivas". Estamos vivendo atualmente um momento crucial na história política do Brasil, com a prisão de políticos que, de fato, fizeram dos interesses privados seu objetivo máximo. Quais são as suas considerações a respeito desse assunto?

HILTON VALERIANO: Tudo parece indicar que vivemos uma crise política sem precedentes na história de nosso país. Parece evidente, também, que os partidos que governam este país há anos, independentemente de rivalidades ideológicas e da busca promíscua pelo poder, tornaram-se o centro de um esquema criminoso de espólio do dinheiro público e de usurpação da verdadeira representatividade política da população. A crise moral que assola a política brasileira parece não tocar a “consciência” dos partidos. Talvez, um dos grandes obstáculos para que nós, brasileiros, enquanto povo, possamos, de fato, adquirir uma consciência política crítica, seja a superação das ideologias partidárias. Nenhum partido político deve estar acima do povo ao qual representa. Mas nossa situação parece ser contrária. Os antagonismos que surgiram devido à crise econômica fomentada pelos escândalos de corrupção, não raro, têm proporcionado divisões cegas marcadas pela condenação irrestrita da dimensão social da política. Junto ao ódio à corrupção, parece ter surgido o ódio ao pobre, ao popular, não obstante, o desprezo quanto à pobreza. Programas sociais necessitam de manutenção, devem ser purificados das distorções ideológicas partidárias e da corrupção, não necessitam de ódio. A reforma das leis trabalhistas foi um claro indicativo do desprezo com o trabalhador. Ouvimos constantemente que os partidos políticos estão em crise de representatividade, mas o principal envolvido ainda aparece com grande índice de aprovação nas pesquisas eleitorais, tendo como sombra, um candidato impulsionado por discursos marcados por racismo, xenofobia, homofobia, machismo e vazio político. Ainda continuamos presos ao populismo. Não estamos ameaçados apenas pela corrupção. Estamos ameaçados também pela intolerância e autoritarismo. Há um vazio semântico em nossa política, e ao mesmo tempo um crescente clamor de discursos extremistas surgidos de fatos concretos de ineficácia do Estado em setores vitais como segurança, saúde e educação. Esse clamor necessita de apuração racional. Estaremos maduros para isso? O momento é de ceticismo político. A prudência exige.

GABRIEL SANTAMARIA: Como educador, conte o que pensa acerca do futuro da cultura no Brasil.

HILTON VALERIANO: O termo cultura é muito amplo. Não se restringe apenas ao universo educacional institucional. Vivemos um momento de monopólio da cultura de massa, que acaba por ocultar a legítima cultura popular. Mas uma elevação dos padrões culturais passa necessariamente por uma elevação educacional. Vivemos uma falência educacional gravíssima. Há uma verdade, que todo brasileiro em seu mais profundo íntimo sabe, mas parece se recusar a aceitar: nunca seremos uma grande Nação se não valorizarmos a educação. E nunca valorizaremos de fato a educação ignorando seu principal protagonista: o professor. Isso parece tão óbvio e simples. Mas, a capacidade de negar o óbvio, é uma das principais artimanhas do cinismo e da demagogia que assola nossa política. Quando se trata de educação, a única bandeira que os partidos políticos podem reivindicar é a bandeira da vergonha. Nas pautas de nossos governantes, os professores, verdadeiros heróis anônimos de nosso país, estão sempre presentes como objetos secundários de propostas mirabolantes que desgraçadamente se repetem nos círculos partidários. Mas diante dos péssimos resultados avaliativos de nossa qualidade educacional, o centro das atenções recai sempre sobre o professor, ou seja, ele passa a ser o principal alvo de condenação de um desastre anunciado, mas sempre cinicamente negligenciado. A vergonha educacional de nosso país é nacional, e não apenas de uma única classe profissional. Politicamente, o Brasil despreza sua própria cultura ao não valorizar sua educação.

sábado, 26 de agosto de 2017

DO SENTIMENTO TRÁGICO DA VIDA


Do Sentimento Trágico da Vida, obra escrita pelo filósofo espanhol Miguel de Unamuno, desenvolve-se no exato ponto em que a filosofia resvala no pensamento teológico. Trata-se de um livro perturbador porque coloca os dilemas humanos fundamentais no centro da discussão sem escamotear as deficiências da natureza humana no esforço de tentar elucidá-los.
A tragédia da existência reside exatamente no fato de que, sendo uma criatura eivada de defeitos e limitações, o ser humano padece as contingências da realidade. Porém, em contrapartida, ao entrar em relacionamento com Deus, ocorre-lhe a oportunidade de se deificar. Isto significa dizer que o homem encontra-se em uma posição de permanente conflito: em parte é composto de consistência material precária, em parte é convocado a uma existência perene superior.
Mergulhar de cabeça na leitura de Unamuno exige do leitor a coragem de enxergar-se como um ser defeituoso e, ao mesmo tempo, a esperança de acreditar na redenção miraculosa de Deus.

Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

ESTADO ISLÂMICO AMEAÇA PAPA FRANCISCO



O Estado Islâmico recentemente lançou ameaças à Itália e também ao Papa Francisco. Em vídeos na internet, terroristas rasgaram a foto do Sumo Pontífice católico, destruíram imagens sacras dentro de uma templo cristão, e estimularam ataques de lobos solitários em território italiano. Isso tudo corrobora os textos que publiquei recentemente: O Terrorismo na Europa e as Aparições de Maria e Você Conhece as Profecias de Garabandal?
Quando a viagem de Francisco à Rússia se transforma em algo iminente, e quando também as mensagens de Garabandal estão prestes a se realizar, com violência grassando pela Europa e perseguições à Igreja Católica, vemos essas ameaças de terroristas islâmicos como indícios de que os acontecimentos encontram-se próximos de se realizar.
Rezemos!

Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A POLÊMICA DA MISS BRASIL



O concurso de Miss Brasil 2017 colocou uma polêmica na internet ao premiar Monalysa Alcântara, a representante do Piauí. Muitos questionaram seus atributos físicos, afirmando que a gaúcha estaria mais preparada para receber a honra. Tudo se deu porque os jurados atribuíram a Monalysa Alcântara certa “brasilidade” que justificava a vitória.


Não é de hoje que o resultado desses concursos causa polêmica. Com frequência, existe quem observe mais dotes favoráveis em outras concorrentes. De certo modo, não se pode afirmar que situações dessa natureza tenham acontecido somente com a vencedora deste ano.

A questão crucial está na justificativa do prêmio: brasilidade. Afinal de contas, o que se esperaria de todas as concorrentes senão essa característica tão peculiar? De um modo objetivo, ter elementos da beleza brasileira era o que se esperava de todas as candidatas. Desnecessário dizer que qualquer uma delas teria que representar essa tal brasilidade.

Monalysa Alcântara é realmente uma belíssima Miss Brasil, e sua vitória lamentavelmente foi perturbada não somente pelos comentários infelizes, mas também pelas colocações equivocadas dos jurados.


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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

A ARTE DE HONRAR A PALAVRA



Se Deus tudo criou através do Verbo, em si mesma a palavra é a essência do sagrado. E isto significa afirmar que o sagrado se manifesta em todas as expressões de verbalidade, tanto naquilo que é intrinsecamente divino, quanto naquilo que é humano. Pois também os homens participam do Verbo, não somente por terem sido criados por Ele, mas também porque a linguagem é a expressão instrumental do Verbo.

Ter consciência disso é entender mais profundamente o caráter divino da natureza humana. Toda criatura que honra a sua palavra está naturalmente honrando a sua gênese celeste, em contrapartida, quem não respeita a palavra que sai de sua boca deturpa o verdadeiro significado da linguagem.

Deus é o que é em essência e na sua expressão. Também nós devemos ser um naquilo que falamos e no modo como agimos.

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terça-feira, 22 de agosto de 2017

DEZ CONSELHOS DE VIAGEM


  • Nunca organize tanto sua viagem a ponto de abolir qualquer possibilidade de vivenciar coisas surpreendes.
  • Mais importante do que registrar tudo em fotografias é observar atentamente aquilo que vier a conhecer, e deixar um belo registro na alma.
  • Não tenha receio do desconhecido. Há sempre coisas positivas aguardando em novas experiências.
  • Mantenha-se aberto a fazer amizades com as pessoas que encontrar no caminho.
  • Que durante o percurso você tenha a companhia ocasional de um bom livro.
  • Sempre que possível, experimente a culinária local.
  • Lembre-se de que as viagens começam e terminam. Portanto, aproveite ao máximo!
  • Que o seu itinerário físico signifique também uma forma de autoconhecimento espiritual.
  • Coisas interessantes podem ser aprendidas nas longas e nas curtas viagens.
  • Escreva um texto, componha uma música, pinte um quadro ou faça um vídeo e poste no Youtube. Conte a todos tudo o que viveu na sua experiência.

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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

LULA E OS PANGARÉS PETISTAS



Pouco a pouco, o eterno candidato à presidência do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, começa a admitir que não concorrerá nas próximas eleições. Com a condenação iminente nas mesmas investigações em que virou réu, muito provavelmente se tornará carta fora do baralho. Recentemente, em entrevistas concedidas durante a caravana que realiza pelo país, citou políticos petistas como Jacques Wagner e Fernando Pimental como possíveis substitutos. Sabe, no entanto, que qualquer outro nome que ocupe seu lugar não terá a mesma empatia popular, e nem tampouco semelhante votação. Se comparados com o próprio, são somente pangarés, azarões que dificilmente chegarão ao planalto, considerando a crise de credibilidade que os casos de corrupção gerou no partido.

O fato em si diz bastante a respeito do PT e, de certo modo, da lei eleitoral brasileira. Durante anos, o petismo apostou todas as suas fichas no carisma de Lula, e esqueceu-se de fomentar outras lideranças na legenda que fossem plenamente capazes de ocupar o espaço deixado pelo líder máximo. Mesmo Dilma Rousseff não foi senão uma escolha de improviso, uma carta tirada repentinamente da manga, e nunca um nome preparado pelo petismo para ocupar o cargo que alcançou. O provável naufrágio na próxima eleição presidencial delatará um equívoco que, com certeza, há de colocar o partido em uma situação agônica.

Também é necessário recordar que circunstâncias como essa, ou seja, a insistência em um nome específico, só se mostra possível porque as leis brasileiras permitem que alguém volte a ocupar a presidência da nação depois de ter ocupado antes o mesmo posto. Nos Estados Unidos, presidentes que exerceram seu mandato não podem se candidatar novamente, impedindo, assim, tendências caudilhistas.

Falando objetivamente, há trinta anos discutimos Lula como candidato à presidência no Brasil. Estava mesmo na hora de avançar para discussões mais profícuas.

Gabriel Santamaria é autor de O Evangelho dos Loucos (romance), No Tempo dos Segredos (romance), Assim Morre a Inocência (contos), Destino Navegante (Poemas), Para Ler no Caminho (Mensagens e Crônicas).